quinta-feira, 6 de maio de 2010

A bola pune




Dezembro de 2009. Vindos da Série B do Brasileiro, os corinthianos mostravam indisfarçável orgulho de terem conquistado o combalido e mixurica Paulista e a Copa do Brasil _torneio que vale muito por classificar para a Libertadores, mas que não conta com as equipes mais fortes do Brasil, envolvidas justamente na disputa do torneio continental. Apesar de claudicantes no Brasileirão, os corinthianos acreditavam piamente que o destino lhes proporcionaria grandes conquistas.

Ao Corinthians, coube papel fundamental na reta final do campeonato. Iria jogar com o Flamengo. Ganhasse, poderia tirar do time rubro-negro o título. Mas o provável campeão, pela quarta vez seguida, seria o rival São Paulo. Perder significaria poder barrar o clube mais odiado pela diretoria alvinegra do sonho de mais um título brasileiro.

Os gigantes do futebol brasileiro nem sequer pensam em perder. Mas o Corinthians só tinha isso em mente. Da escolha do campo de jogo _na neutra cidade de Campinas_, à saída prematura de Ronaldo de campo, passando pela postura da equipe dentro das quatro linhas, não havia motivo algum para acreditar que o Corinthians desejasse cumprir seu papel, honrar sua camisa e tentar, ao menos tentar, ganhar o jogo.

Em 2004, o São Paulo poderia ter feito coisa muito pior com o Corinthians. Bastava perder o jogo para o Juventus que a equipe do Morumbi ainda estaria classificada para as finais do Paulista e, de quebra, empurraria o alvinegro para a segunda divisão. Mas gigantes não flertam com a derrota. Não a aceitam como parte da vida. Repudiam-na, evitam-na, fogem dela. A camisa que já foi envergada por Rui, Bauer, Noronha, Bellini, Leônidas, Gérson, Roberto Dias, Dario Pereyra, Lugano, Raí e outros deuses não aceitaria como natural a mancha de uma derrota, qualquer derrota. Era necessária vendê-la cara. Grafite incorporou este espírito, honrou as três cores e preveniu os corinthianos do desastre.

Em 2009, porém, o Corinthians não fez o mesmo. Sua torcida comemorou a "doce derrota" para o Flamengo.

Tivesse ganho, talvez o Flamengo não tivesse forças para superar o Grêmio adiante. Talvez nem se classificasse para a Libertadores. Talvez entrasse em crise. Talvez houvesse uma reformulação no elenco. Talvez, sem o prêmio pela conquista do Brasileiro, não tivesse bala para contratar Vágner Love. Com certeza, o Flamengo cairia em outro grupo da Libertadores. Provavelmente, na noite de ontem, o Corinthians estivesse enfrentando um time do Peru, da Venezuela, do Chile. As coisas teriam sido diferentes.

Os torcedores corinthianos que penduraram suas bandeiras do Flamengo na janela pagam hoje o preço da covardia de ontem. Que sirva de lição para os próximos cem anos.

(MARCELO DIEGO)

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