quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Aposta igual, resultados distintos

Trocar de técnico. Chamar alguém que já tivesse treinado a equipe anteriormente. Trazer jogadores consagrados do passado.
A mesma fórmula foi utilizada por dois clubes diferentes. Os resultados não poderiam ser mais distintos.
O Inter deu adeus ao confuso e irado Jorge Fossati e trouxe de volta Celso Roth. Não, não foi só o técnico quem mudou as coisas. A diretoria seguiu atenta ao mercado e promoveu a volta de jogadores importantes como Tinga e Rafael Sóbis. Recuperou Taíson, que estava quase de saída. Seguiu apostando em D´Alessandro. Construiu um grande time em 2009, que está dando resultado em 2010, depois de beliscar o vice brasileiro.
E tem tudo para ser campeão da Libertadores. Pela segunda vez em quatro anos.
O Palmeiras fez igual. Buscou Felipão, Kléber, Valdivia. Mas tudo dá errado. Já faz seis partidas que não vence. A vitória sobre o Santos foi um suspiro.
A lição que fica?
Planejamento é a longo prazo. Mas os contornos e correções devem ser feitos prontamente.
Não há grandes times sem o uso de uma base sólida.
E quem se reforça com inteligência, não com emoção, tem maior chance de êxito.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Devagar e sempre

Juvenal não demorou nem 24 horas para contratar Ricardo Gomes para o lugar de Muricy Ramalho. A interpretação: a diretoria do São Paulo é ágil.
Juvenal não tem a mínima ideia de quem será, efetivamente, o próximo técnico da equipe. Interpretação: a diretoria do São Paulo é prudente.
Ok. Então não erram nunca?

Vai durar?

Qualquer análise começa por dizer que Mano Menezes não é Dunga, nunca foi. Enquanto Dunga foi um bom jogador, campeão mundial, Mano foi medíocre dentro das quatro linhas. Fora delas, porém, o atual treinador da seleção tem uma folha de bons serviços prestados, ao contrário do técnico que assumiu o comando brasileiro em 2006.

Isso posto, é necessário avançar para o segundo ponto: devagar com o andor.

Ok, ok. O torcedor quer a seleção para frente, é necessário viver cada dia de uma vez e o futebol precisa de alegria. Se o futuro a Deus pertence, por que não louvar e se entusiasmar com o presente, tendo em vista o futebol apresentado pelo selecionado ontem, diante da boa equipe americana?

Mas olhar para trás ainda é um remédio eficiente para evitar exageros e repetição de erros.

Na estreia de Dunga em 2006, contra a Noruega, os jornalistas de plantão decretavam: "acabou a moleza na seleção". O técnico ainda prometia deixar de lado "o estilo brigador" e que iria só "gritar quando fosse necessário".

A principal diferença do ontem para o hoje é que Dunga preferiu usar a base da Copa-2006. Em poucos jogos, porém, mudou a estrutura. Passou a convocar mais e mais novatos. Os experimentos foram feitos de todos os jeitos, até que se definisse, apenas em 2009, a equipe padrão do Brasil. Essa que acaba de naufragar na Copa.

Primeiro jogo não diz muito. A continuidade do trabalho é que poderá dizer se este time é o que promete. Mas o aperitivo foi muito bom.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O fim da era dos supertécnicos

O treinador nunca vai deixar de ser protagonista. Pelas suas mãos são burilados talentos, criadas alternativas, definido o padrão tático do time. O seu comportamento se reflete no campo. Dizem os mais sábios, como Tostão, que técnico não ganha jogo, mas ajuda a perder.
Há naturalmente uma transição na geração de treinadores. Lá atrás, sempre que um time tinha problemas, as soluções pensadas eram Rubens Minelli, Carlos Alberto Silva, Jair Picerni, Cilinho.
Nos anos 90, os treinadores foram catapultados à condição de primeira estrela do futebol. Muito disse se deve a quem mais rejeitava o rótulo: mestre Telê Santana.
Até o início de 1990, Telê tinha a injusta fama de pé frio. Com um campeonato brasileiro no curriculum, havia feito trabalhos excepcionais em vários clubes e na seleção brasileira, mas não levantava a taça.
Sua ida ao São Paulo quebrou o paradigma. Nos cinco anos no Morumbi, foi vice-campeão brasileiro (90), campeão brasileiro (91), campeão paulista (91, 92), campeão da Libertadores (92, 93), vice-campeão da Libertadores (94), campeão mundial (92, 93), campeão da Recopa Sul-Americana, campeão da Supercopa dos Campeões. Praticamente ganhou tudo o que disputou.
Em sua esteira, nasceram os técnicos que advogavam para si as vitórias do clube. Nasceram as "eras". A "era Luxemburgo" no Palmeiras e depois no Santos. A "era Muricy" no São Paulo. A "era Felipão". A "era Nelsinho" e outras tantas.
Pois agora tudo se renova, se reconstroi. As equipes têm imensas dificuldades em contratar treinadores. Falta inovação no mercado.
Os "velhos" nomes encontram dificuldades. Luxemburgo e seu bom elenco no Atlético-MG encontra dificuldades para fugir da zona do rebaixamento _e a cada rodada vai ficando pior. Felipão estreou no Palmeiras em 1997 acumulando seis partidas invicto _perdeu apenas uma nos dez primeiros jogos comandando a equipe na ocasião. Agora, não consegue ganhar. Muricy e Adilson, os treinadores na ponta do Brasileirão, fazem bons trabalhos, mas ainda têm sobre si as desconfianças geradas por maus resultados recentes em outros clubes.
E o São Paulo pena para conseguir achar um treinador, qualquer um.
A falta de nomes indica a pobreza do mercado.
(MARCELO DIEGO)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Rogério

Ele sabe que está prestes a se aposentar. Disse que talvez tenha mais dois anos competitivos.
Sabe que dificilmente terá outra chance como esta. Para medir o tamanho do desafio, por exemplo, é bem provável que seu time não consiga figurar entre os finalistas do Campeonato Brasileiro deste ano, classificando-se para a Libertadores do ano que vem.
Ele tem noção de que o time é fraco e está sem comando, tanto na parte técnica quanto diretiva.
Mas ele não foge.
Conclama os torcedores, evoca espírito guerreiro, chama a responsabilidade.
Diante do abismo técnico entre as duas equipes, pouco ou nada deve adiantar.
Mas qualquer que seja o resultado de hoje a noite, mesmo que signifique a última partida dele em um torneio de Libertadores, Rogério Ceni conseguirá sair maior do que entrou.

Qual a torcida mais feliz da década?

Quem mais celebrou títulos nos últimos dez anos em São Paulo?
Toda torcida no Estado terá uma boa dose de recordação (contando só os grandes torneios).

Corinthians
Campeão brasileiro 90, 98, 99, 2005
Campeão Copa do Brasil 95, 2002, 2009
Campeão paulista 95, 97, 99, 2001, 2003, 2009
Campeão Rio-SP 2002

14 títulos / 1,4 por ano

Palmeiras
Campeão brasileiro 93, 94
Campeão Copa do Brasil 98
Campeão Libertadores 99
Campeão Paulista 93, 94, 96, 2008
Campeão Rio-SP 93

9 títulos / 0,9 por ano

Santos
Campeão brasileiro 2002, 2004
Campeão Copa do Brasil 2009
Campeão Paulista 2006, 2007

5 títulos / 0,5 por ano

São Paulo
Campeão brasileiro 2006, 2007, 2008
Campeão Libertadores 92, 93, 2005
Campeão Mundial 92, 93, 2005
Campeão Rio-SP 2001
Campeão Paulista 91, 92, 98, 2000, 2005

15 títulos / 1,5 por ano

Título sim; maturidade não

O Santos é o novo campeão.
Merecido. Ganhou de quem apareceu pela frente.
Como no Campeonato Paulista, termina o torneio, porém, tendo que justificar uma derrota. Bobagem. Usar o regulamento serve exatamente para isso. A regra está ali, serve a todos, a derrotados e a vencedores.
Apregoam os repórteres que o time já sofre processo de desmanche. Uéslei, André e Robinho vão embora. O Santos faz o que tem que fazer. Ganhou dois títulos. Precisa reforçar seu caixa. Ninguém vence indefinidamente. Manter estes jogadores não significaria montar um esquadrão capaz de ganhar todos os títulos do mundo. O custo poderia ser alto para um resultado incerto.
Porque a verdade é que o Santos é campeão, mas de um campeonato que se transformou em coadjuvante. Em tese, os melhores do país estão na disputa da Libertadores no primeiro semestre. Em tese porque a classificação se dá em dezembro, sendo resultado do trabalho de um ano (o time pode ser ótimo no primeiro semestre, acumular muitos pontos, declinar no segundo, não ser campeão brasileiro e ainda assim se classificar para a Libertadores). E de dezembro a março, quando a Libertadores começa, há um hiato que pode despertar gigantes e adormecer a outros.
Mas é fato que times de tradição estão fora da Copa do Brasil. É uma espécie de fast track nacional. Mas o Santos não tem nada a ver com isso. O torneio deste ano tinha Palmeiras, Grêmio, Fluminense, Atlético-MG e Vitória. O Santos se qualificou em meio a todos eles.
A equipe do Santos, porém, mostra que os jogadores individualmente são ótimos, mas não formam um conjunto. Depois do vexame da visita a um orfanato mantido por entidade espírita, as imagens grotescas de uma transmissão de webcam mostraram que os títulos vieram, a maturidade não necessariamente.
É bom renovar, fará bem ao Santos. Talvez este caminho seja mais efetivo para que este bom time se transforme em ótimo.
Hoje, o Santos está ao lado do Internacional em um posto acima dos demais clubes brasileiros. Merece a faixa de campeão.