terça-feira, 15 de março de 2011

Tudo igual

Muricy Ramalho é um bom treinador de futebol, mas um técnico mediano.
Ele gosta de repetição. Treina as equipes à exaustão, principalmente posicionamentos defensivos. Seus ferrolhos costumam ser bem-sucedidos e suas equipes têm relativo sucesso em prevenir gols.
Como é um técnico apenas mediano, não desenvolve métodos novos, não improvisa, não é adepto da arte aliada a eficiência e não consegue adaptar suas equipes a novas circunstâncias e dinâmicas de jogo.
Se falha na estratégia em campo, Muricy nunca falhou em seu esquema de marketing. Poucos souberam usar com tanta inteligência este nicho de mercado como ele. Muricy já deu diversas demonstrações de que criou um personagem, retroalimentado pela imprensa esportiva (e principalmente alguns jornalistas de rádio são bastante acríticos). Em determinada ocasião, por exemplo, o treinador deixou claro que não era ranzinza daquele tanto, mas distribuía bordoadas aos jornalistas porque no fundo eles queriam uma notícia. Ele virava a notícia.
Nos momentos de vitória, que não foram poucos, Muricy nunca se escondeu de um bom microfone. Vende a imagem de que é "tarado por futebol" e que assiste até a campeonato da quinta divisão. Diz ainda que dá muito lucro aos times, por revelar talentos. Ficou anos no São Paulo. Não consta que tenha garimpado nenhum valor de campeonatos estaduais fora de São Paulo, muito menos que tenha alçado voo de jovens talentos. Lucas, a maior revelação do Morumbi desde Kaka, nunca teve uma chance com Muricy. Precisou do limitado Sergio Baresi para subir.
Muricy sempre vendeu a imagem de que contrato para ele era sagrado, não se rompia sob nenhuma circunstância. Se o time estivesse mal, paciência.
"Eu sou assim", disse, quando não aceitou ir para a seleção brasileira, preso que estava a um documento que nem sequer havia assinado com o Fluminense.
Louvável, bradaram todos.
Agora, Muricy rasga o mesmo contrato.
Diz que não cumpriram o acertado com ele ao não darem condições de trabalho. Essas condições, ele sabia, não existiam nas Laranjeiras quando para o Rio ele se mudou. Essas condições não apareceriam do dia para a noite. Aos empregadores, Muricy não deu o benefício da dúvida. O mesmo que ele sempre advogou aos técnicos em situação periclitante.
Se o Fluminense estivesse melhor na Libertadores e no Carioca, Muricy tivesse uma outra atitude. Talvez. Nunca saberemos.
O fato é que ele era um bom treinador e um técnico mediano, mas que conseguia vender-se estrategicamente com um diferencial de mercado. Agora, perdeu isso.

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